Segunda-feira, 14 de Novembro de 2016 às 17:13 Postado por A COZINHA DOS QUILOMBOS História dos Quilombos

Quilombo Preto Forro Cabo Frio, Região Baixada Litorânea

Quilombo Preto Forro Cabo Frio, Região Baixada Litorânea

Terra é sinônimo de liberdade no Quilombo de Preto Forro, situado no bairro de Angelim, na área rural de Cabo Frio. Segundo relatos dos moradores, durante o período escravista, habitaram negros livres naquelas terras. Esse fato contrastava com a realidade de duas fazendas próximas, onde os trabalhadores eram escravizados.

Os moradores dessa comunidade são descendentes de Ludgério dos Santos, ex-escravo, nascido em 1871. Do patriarca, herdaram, além do usufruto da terra, o costume de partilhar o espaço coletivamente. Em 17 de novembro de 2012, depois de inúmeros conflitos com grileiros, os moradores de Preto Forro conseguiram o título definitivo das terras que habitam, o que inaugurou mais um capítulo da luta pela liberdade do grupo. 

Andressa (19 anos), Elaine (38 anos) e Dona Leonídia (76 anos) representam as inúmeras gerações de Preto Forro, cuja trajetória já passa de 300 anos no mesmo território. Ao longo desse tempo, os alimentos e as boas lembranças proveem da terra. A esse respeito, Dona Leonídia, uma das pessoas responsáveis pela transmissão dos saberes, explica: “terra só dá o que a gente planta, o que não planta não dá, né? Aí, tinha a gente plantava de tudo: batata, aipim. Comia o que plantava e vendia também [...]. Mais com tudo isso casei as filha tudo, duas filhas com dinheiro de roça. Aí, o pai apanhava dinheiro e levou dinheiro. Depois pra eles lá e levou ela lá em Macaé comprar o vestido de casamento [...]”.

Atualmente, próximas às casas, as famílias possuem suas respectivas roças, em que plantam abóbora, limão, banana, maracujá, mas, sobretudo, aipim, batata e laranja. Diferentemente do que ocorria no passado, a produção destina-se, apenas, à sobrevivência. Por isso, Andressa, presidente da Associação, tem o objetivo de “resgatar a plantação da terra”. Nesse sentido, a jovem guardiã deseja que hábitos como, por exemplo, aqueles vivenciados por Dona Leonídia, não se percam.

Entre esses costumes, destaca-se a tradicional receita da galinha da roça com quiabo, prato que se mantém no cardápio da comunidade até hoje. Narrado por Dona Leonídia, percebemos que há um jeitinho especial de cozinhar essa refeição: “Dorava primeiro, pingava um pouquinho de água, deixava ele ficar bem amarelinho nessa panela. Toda hora ia mexendo, pingando. A carne de porco também era a mesma coisa. Se fosse pra ensopar era uma coisa, agora se fosse assim pra escardar ele pra depois fritar, já era outra coisa. Tinha que pingar toda vida um pouquinho de água [...].”