Exposição permanente na Fazenda Santana do Turvo, em Amparo, será aberta dia 26
Uma revolução histórica. Assim pode ser interpretada a exposição permanente do livro “A Cozinha dos Quilombos: Sabores, territórios e memórias”, do Instituto Dagaz, na Fazenda Santana do Turvo. A partir do dia 26 de abril, quinta-feira, o público poderá visitá-la na propriedade, em Amparo, distrito de Barra Mansa, onde passa a abrigar o projeto Ponto de Memória Afro da ONG. A abertura está prevista para as 14 horas. Já para visitas em outras datas, de segunda a sexta-feira, é preciso fazer contato prévio para agendamento.
A parceria entre o instituto e a propriedade promove a oportunidade de contar a história do povo negro sob perspectiva protagonista, e não limitada à escravidão, a qual foi submetido por longos anos. Uma vez refúgio para os escravizados, agora é o quilombo que entra pela porta da frente da fazenda com sua cultura retratada em livro e exposição.
A montagem está quase pronta, como garante a coordenadora do Dagaz, Renata Ferreira, responsável pelo projeto. Ela comemora a parceria, principalmente pela localidade e também oportunidade de perpetuar a cultura quilombola, parte importante da história da região, acessível a todos. Renata destaca que o principal público alvo são grupos escolares, uma vez que a atividade auxilia o ensino da história e cultura afrobrasileira e africana, conforme legislação, para além da teoria.
- Esse é um turismo muito pedagógico, porque a gente quer bater muito na questão do cumprimento da Lei 10.639. O objetivo é que as crianças e jovens vivenciem o que é proposto pela lei, porque são questões histórias que aconteceram muito próximo da gente. Então, queremos que eles vivenciem e não só saibam que a lei existe, mas que eles conheçam de perto - explica a coordenadora.
Além da exposição, conforme disponibilidade, os grupos que agendarem visitas poderão ainda ter oficinas realizadas pela coordenadora Renata Ferreira e de projetos itinerantes realizados pela ONG, como Dança Afro e Contação de Histórias. “Esse é um ganho muito importante para a região, porque agora se torna Ponto de Memória permanente. As crianças terão a oportunidade de conhecer um pouco sobre como é viver no quilombo”, observou a coordenadora.
Segundo a diretora do Instituto Dagaz, a exposição é mais que apenas a culinária quilombola: “A mostra traz fotos dos pratos tradicionais das comunidades que foram mapeadas e ainda revelou uma forma diferente de manifestar sua cultura, afetos, e chamar atenção para questões sociais que ainda permeiam seu território, através da culinária”, considerou Marinez Fernandes.
Fazenda Santana do Turvo
Submetida a restaurações há cerca de nove meses, a Fazenda Santana do Turvo, construída por volta de 1826, foi considerada a maior produtora cafeeira do município de Barra Mansa. Pioneira nessa cultura, segundo o administrador, João Luiz de Carvalho Júnior, a produção anual chegava a 180 mil arrobas de café. A propriedade, situada a uma distância aproximada de 2,5 quilômetros do Centro de Amparo, chegou a ter 250 escravos.
- Nosso objetivo é que a história seja reescrita, recontada, através do levamentamento que estamos fazendo e da restauração da fazenda. Nós, inclusive, instalamos placas interpretativas turísticas, que contam a história de cada estrutura, expõe para o turista as glórias do passado. Foi uma importante fase do nosso país - avalia o administrador.
O antigo engenho da fazenda é uma das estruturas restauradas, onde há uma grande roda de ferro, rodeada por outras construções antigas. E é “esse espaço que recebe a fantástica exposição do Instituto Dagaz”, como enaltece Júnior.
- O intento dessa parceria é mergulhar o visitante nesse passado. É um somatório poderoso, porque você imagina um local privilegiado, histórico, do Vale do Café, recebendo uma exposição afro que é de arrepiar?! É um conteúdo histórico e pedagógico imenso, que agora vai estar ao alcance de todos. Na fazenda, também há restaurante, projetos esportivos, entre outros atrativos. Mas a joia da coroa é realmente essa exposição - concluiu o administrador da Fazenda Santana do Turvo.
A Cozinha dos Quilombos
O livro “A Cozinha dos Quilombos: Sabores, territórios e memórias” é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Instituto Dagaz, em 2014, que mapeou e visitou 29 quilombos. Com intuito de identificar histórias, culturas e costumes culinários, a obra apresenta como os remanescentes quilombolas, com relatos de pratos tradicionais das comunidades e fotos expressivas dos mesmos.
Desde o lançamento do livro, o instituto promove exposição das fotografias contidas na obra, não se limitando à região. O projeto foi impulsionado pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio de Janeiro, com patrocínio da Concessionária de Energia Light. O livro não é comercializado, mas está disponível para acesso online gratuito e para download no site: br.acozinhadosquilombos.com.br.
Ponto de Memória Afro
Em 2015, o Ministério da Cultura e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) contemplaram o Dagaz com o Prêmio Ponto de Memória. Essa premiação visa selecionar ações que desenvolvem iniciativas de preservação de memória e composição de museologia social. Busca também reconhecer, incentivar e fomentar a continuidade e sustentabilidade na perspectiva do Programa Ponto de Memória, com o livro “A Cozinha dos Quilombos”, a primeira produção literária da ONG.
Também pela produção da obra, o instituto conquistou o Prêmio de Cultura Afro-Fluminense 2015. Com o objetivo de reconhecer e fomentar um segmento ignorado por muitos anos pela sociedade, a ação foi promovida pela Secretaria de Estado de Cultura, em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Agendamentos
Os interessados em agendar visita devem entrar em contato com o Instituto Dagaz pelo telefone (24) 3071-2798, ou diretamente com a coordenadora Renata Ferreira (24) 9 9822-4847.
Serviço
Abertura da exposição “A Cozinha dos Quilombos” no Ponto de Memória Afro
Local: Fazenda Santana do Turvo (Estrada Amparo/Quatis, distrito Nossa Senhora do Amparo, Barra Mansa)
Data: 26 de abril, quinta-feira
Horário: 14h