Quilombo Botafogo Cabo Frio, Região das Baixadas Litorâneas
Cantores de música gospel, cruzada evangélica de pastores, concurso de beleza, roda de capoeira, quadrinha, jongo, atividades recreativas e esportivas foram algumas das atrações da 4ª edição da tradicional festa Quilombos Unidos em Ação, promovida, em 2013, pelo Quilombo Botafogo. A programação da festa exemplifica o hibridismo cultural constituinte dos quilombos do Estado do Rio de Janeiro. Nesses dias, a feijoada e outros pratos típicos da comunidade engrossam esse caldeirão cultural.
Sobre o grupo, em 1999, o território do Quilombo Botafogo, situado na Cidade de Cabo Frio, região das Baixadas Litorâneas do Estado do Rio de Janeiro e onde vivem mais de 100 famílias, foi reconhecido como pertencente à comunidade remanescente de quilombos. Relatos históricos sugerem que as pessoas da comunidade descendem dos escravos da antiga Fazenda Campos Novos, unidade jesuítica que, no século XVII, se localizava entre os municípios de Cabo Frio e de São Pedro da Aldeia. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marquês de Pombal, as terras passaram para o domínio do Estado. Na primeira metade do século XIX, arrendatários e ocupantes que atuavam no comércio clandestino de escravos passaram ocupar a região, onde se formou um grande contingente de campesinato negro.
Em termos atuais, de certa forma, a expressiva densidade demográfica da região explica a diversidade cultural interna do quilombo, bem como as diferentes matrizes religiosas e culturais que convivem. Para conversar a respeito, o casal Josué e Maria Cristina abriram as portas de sua casa, onde também estava Dona Elícia, de 67 anos, outra liderança da comunidade.
Naquela varanda, durante a primeira rodada de conversa, Maria Cristina, mais conhecida como Cristina, trouxe uma travessa de um aipim que derretia na boca. Em meio a esse saboroso prólogo, Josué aproveitou para se posicionar sobre a importância de as pessoas conhecerem suas histórias e suas tradições. Por isso, ressaltou a importância das práticas culinárias e gastronômicas, enfatizando a relação intrínseca entre o que se come e o que se planta.
Sobre a relação entre saber culinário e a terra, Dona Elícia ensina de modo didático: “Quando se fala em culinária, é ligada à terra; não tem jeito, porque tudo vem da terra, né? Na questão da terra, eu ainda muito criança já produzia, eu já plantava. Plantava amendoim [...] quando colhia, vendia pra minha mãe comprar as coisinhas pra gente. Isso era o costume, entendeu? Eu participei muito de casa de farinha com minha mãe, raspando mandioca, fazendo farinha, fazendo tapioca, fazendo biju, tudo isso é tradição da terra, dessa terra nossa.
Pra você ter uma ideia, essa nossa terra aqui já teve muita casa de farinha, já se produziu aqui muita farinha. A nossa farinha era uma farinha muito conhecida na região, chamava Farinha do Botafogo, entendeu? E a gente vivia disso, vivia da agricultura, vivia da roça, a gente não trabalhava fora vivia da roça.”