Quilombo de Santa Rita do Bracuí Angra dos Reis, Região da Costa Verde
No Quilombo de Santa Rita do Bracuí, Município de Angra dos Reis, litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, região da Costa Verde, vivem, aproximadamente, 200 famílias. Os moradores dessa comunidade descendem dos antigos escravos da fazenda de mesmo nome, a qual pertenceu ao Comendador José Joaquim de Souza Breves.
Indícios históricos consideram que essa antiga propriedade funcionava como porto de recepção de africanos recém-chegados, entre os anos de 1830 e de 1850, período em que o tráfico negreiro era ilícito. Além disso, o local produzia cachaça, que servia de moeda de troca no comércio de escravos. Em 1879, ano de falecimento de José Breves, os escravos foram libertos sob a condição de continuarem a prestar serviços à fazenda.
Assim, contar as histórias dos antepassados escravos para os filhos, sobrinhos e netos representou, durante muito tempo, uma estratégia dos mais velhos para que o passado de doação das terras permanecesse vivo no presente. Em termos contemporâneos, a centralidade da oralidade, associada à uma entonação peculiar, constitui um dos aspectos singulares da cultura grupo.
Por isso, nada é mais aconchegante do que ouvir os “causos” ao redor do fogão à lenha! No Quilombo de Santa Rita do Bracuí, essa experiência foi proporcionada por meio da divertida conversa com as irmãs Marilda e Maria Lúcia. Como tecelãs, entrelaçam contos, jongos e peculiar senso de humor para costurarem histórias que fizeram parte de suas vivências culinárias. Dessa forma, conjugam os verbos coser e cozer com a maior perfeição.
Dona Marilda, ao ser indagada sobre a pintura na capela em homenagem à Santa Rita, começa a narração: “Aí, veio um rapaz grafiteiro da Bahia. Aí, como o nome da igreja, da nossa coisa é Santa Rita. Então, eles botaram Santa Rita negra. Santa Rita é branca, mas aí eles fizeram Santa Rita negra.” Assim, completa concluindo Dona Maria Rita: “Santa Rita virou Black!” Tudo ao redor suscita uma história diferente, e, como em um novelo de lã, as irmãs vão puxando a fiação.
Das lembranças da infância, a carne de caça é o primeiro fio a ser tecido, conforme Dona Marilda explica: “Antigamente, o pessoal vivia muito da caça também, né? Então, era um jeito de se alimentar também. [...] Até a minha irmã fez um ponto de jongo que lembra, assim, que o pessoal caçava muito que já tá em extinção. Tem até jongo para ilustrar [...]”: Oh, minha gente vem ajudar essa criatura. Tatu cavuca muito, é bicho da unha dura. Da unha dura, da unha dura. Tatu cavuca muito, é bicho da unha dura.”