Segunda-feira, 14 de Novembro de 2016 às 17:02 Postado por A COZINHA DOS QUILOMBOS News

Quilombo Maria Conga Magé, Região Metropolitana

Quilombo Maria Conga Magé, Região Metropolitana

No Município de Magé, ao longo da linha férrea que corta a cidade, localiza-se o Quilombo de Maria Conga. Nesse espaço, vive uma comunidade que tem buscado, por meio de suas práticas culturais, tornar visíveis a trajetória histórica do grupo como parte da luta pela posse das terras que habitam.

No centro da memória histórica, encontra-se a narrativa compartilhada entre o grupo em torno de Maria Conga. Nascida em 1792, no continente africano, Maria Conga e sua família vieram para o Brasil por meio do tráfico negreiro, em 1804, desembarcando na Bahia. Somente em 1810, com 18 anos, Maria Conga chegou a Magé. Por volta de 1854, foi alforriada e, com 35 anos, formou um quilombo para onde se dirigiam os escravos fugidos das fazendas da região.

Além de guerreira, as imagens sobre Maria Conga a definem como alguém que cuidava dos escravos aquilombados por meio da cura com ervas medicinais, da realização de parto e das práticas da conciliação quando ocorriam conflitos entre os quilombolas. Atualmente, a força dessa imagem favorece que os espaços onde a líder viveu, lutou e morreu adquiram status de monumento para o grupo. Em 1988, a legitimidade da ex-escrava ocorre por meio de sua proclamação como heroína do município. Em 2007, a comunidade de
Maria Conga foi reconhecida como remanescente de quilombo; desde então, o grupo tem lutado pela posse definitiva das terras em que viveram seus antepassados.

Com efeito, esse desafio tem sido enfrentado com dinamismo por Ivone de Mattos Bernardo, de 50 anos, presidente da Associação da Comunidade de Maria Conga. Juntamente com outras pessoas do grupo, ela tem se esforçado para tornar conhecida a trajetória histórica do grupo para as novas gerações. Nesse sentido, a culinária mobiliza uma multiplicidade de afetos.

Na cozinha de Ivone, estavam Dejeni de Barros Martins, de 57 anos, Alcinéa de Souza Silva, de 57 anos, e Glauce dos Santos Araújo, de 27 anos, pessoas que conhecem as práticas culinárias costumeiras do grupo.

O quitute, uma espécie de cozido, está intrinsecamente relacionado às brincadeiras de infância, como Ivone explica: “Ah, como se tivesse brincando no quintal, a gente falava assim: Vamos fazer um quitute hoje [...] pegava as coisas nas casas; aí, cada uma e vinha: Ah, minha mãe me deu isso... [...] um dava uma coisa; aí, pegava o que tivesse, quando tinha carne, mas a maioria das vezes a gente fazia tudo sem carne.” Ainda sobre esse processo, Alcinéa completa: “A gente pegava aquelas pedras e botava em volta. Pedaço de tijolo velho que tinha também. Às vezes, não ficava legal e entornava.” Por fim, com nostalgia, Ivone conclui: “O pessoal não faz mais, mas era tão bom.”