Segunda-feira, 14 de Novembro de 2016 às 17:04 Postado por A COZINHA DOS QUILOMBOS News

Quilombo Maria Joaquina Cabo Frio, Região Baixada Litorânea

Quilombo Maria Joaquina Cabo Frio, Região Baixada Litorânea

Duas gerações, mãe e filha: Dona Landina e Rejane são lideranças do Quilombo Maria Joaquina, situado em Cabo Frio, e batalham, cotidianamente, para a preservação das memórias e das práticas socioculturais do grupo. Para elas, os projetos de reconstrução da casa de farinha e de continuidade dos hábitos culinários, como, por exemplo, o consumo da tapioca, são elementos centrais para a constituição da identidade do grupo. 

Essa população que vive em Maria Joaquina foi identificada, no final da década de 1990, como remanescente de quilombo, cuja história, naquele momento, fora vinculada ao Quilombo de Rasa, localizado em Armação dos Búzios. Entretanto, há dois anos, iniciouse um processo de desmembramento formal entre essas comunidades, o que culminou, em 2012, com o autorreconhecimento de Maria Joaquina como um quilombo de trajetória específica.

Sobre essas especificidades, Rejane, presidente da Associação  da Comunidade Remanescente do Quilombo, ressalta: “Maria Joaquina sempre foi uma comunidade separada, apesar de todo mundo ser parente [referência a Rasa]. Mas a gente tinha o Jongo desde 1919 [...] ou até antes. Nosso jongo acabou em 1964, com a morte do meu tio e era [o jongo] uma grande expressão cultural.

Ao tratar sobre os usos da farinha na culinária da comunidade, Rejane ressente-se pela interrupção das atividades na Casa de Farinha, local de memória que, outrora, abrigou ambiente de trabalho e de sociabilidade e que, hoje, porém, está em ruínas. Tendo isso em vista, lembra que seu avô, Seu Benedito, um dos maiores produtores rurais de mandioca da região no passado, por meio dos rendimentos provenientes da produção da casa de farinha e da lavoura, construiu uma confortável casa para a família, criando todos os filhos e os netos.

Em terras brasilis, a mandioca, base da tapioca, merece total reverência. Oriundo da tradição indígena, esse alimento continua a alimentar as comunidades rurais pelo Brasil afora, como já dizia o provérbio: “Cara que não tem eira nem beira, lá no fundo do quintal, tem um pé de macaxeira.” Consequentemente, o consumo da farinha passa a ser central para essa brava gente brasileira que, como os moradores de Maria Joaquina, se definem por intermédio das palavras de Rejane : “O povo aqui é valente!”