Quilombo Pedra do Sal Rio de Janeiro, Região Metropolitana
Zungu, candomblé, samba: práticas culturais realizadas contemporaneamente pela Comunidade Remanescente de Quilombo da Pedra do Sal. Essas práticas, como artes de viver, foram construídas por meio da relação da população negra com a zona portuária da Cidade do Rio de Janeiro, ao longo de mais de quatro séculos. Nas tortuosas ruas e becos desse local, junto à área portuária, estivadores frequentaram os zungus; tias baianas promoveram festas do candomblé e rodas de choro; capoeiristas fugiram da perseguição policial.
Em 2006, a comunidade Pedra do Sal, localizada na cidade do Rio de Janeiro, foi reconhecida oficialmente como remanescente de quilombo. Desde então, o grupo reivindica espaços simbólicos que narram sobre a presença negra na região, a saber: o território do mercado de escravos africanos, conhecido como Valongo; o Cemitério dos Pretos Novos; o movimento do porto e seus antigos armazéns; e a Pedra do Sal e seu entorno, atravessados pelas memórias do samba e dos orixás.
Na Pedra do Sal, Marilúcia da Conceição Luzia, de 55 anos, uma das lideranças da comunidade, contou sobre a história do grupo e sobre a origem do principal prato da comunidade: o zungu.
Em termos contemporâneos, o candomblé continua a ser uma prática cultural relevante para os moradores da Pedra do Sal. Sobre as festividades religiosas, narra Marilúcia: “Tem o balaio Yabás, das que é no segundo sábado de dezembro, dezembro é o mês das Yabás, que são as orixás mulheres, né?”
Conforme a religiosidade, o zungu, prato tradicional em Pedra do Sal, nasceu no século XIX. Sobre a origem do prato, Marilúcia explica: “Olha, o zungu é o angu, que é o termo que os escravos usavam no século XIX. Não falavam angu, falavam zungu. Não sei se você sabe, mas era um dialeto diferente. O samba que hoje a gente fala que é samba, eles falavam que era semba.”
Um prato que atravessa gerações: “Essa história do angu, na nossa família, ela tem, vamos dizer, uns 150 anos, porque veio da minha bisavó pra minha avó, pra minha mãe, que está com 84 anos, pra mim e pra minha filha que está com 24 agora. De geração pra geração. A gente sempre comendo angu.” Por fim, acrescenta Marilúcia: “E aí a gente está pretendendo fazer um restaurante Casa de Zungu aqui na zona portuária. Com receitas afro-brasileiras. Nós já somos um quilombo. Agora, a gente precisa inaugurar o nosso restaurante. Nós já somos de tradição quilombola. A gente precisa efetivamente estar com a nossa gastronomia aqui na zona portuária 24 horas.” Em suma, uma prática do passado que ainda pode oferecer meios de sobrevivência para o grupo.