Quilombo Sacopã Rio de Janeiro, Região Metropolitana
Rua Sacopã, 250, Lagoa, Rio de Janeiro. A ladeira emoldura-se por remanescentes da Mata Atlântica, com vista para o Cristo Redentor e para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Nesse endereço cinematográfico, de altíssimo valor imobiliário, vivem 28 membros da família Pinto, que integram o Quilombo de Sacopã. Em contraste com a aparência de concreto dos condomínios luxuosos no entorno, o espaço interno do quilombo urbano é marcado pela presença de árvores, arbustos, pássaros, cães e pequenos micos.
A crônica sobre as práticas de resistências construídas pelo grupo, a fim de permanecer nesse disputadíssimo território, foi contada com fluidez pelo casal Seu Luiz Sacopã e Dona Tina. Ele, além de músico profissional com dois LPs e oito CDs gravados, é liderança do Quilombo de Sacopã e presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj). Ela, exímia cozinheira, é responsável pela cozinha comunitária do grupo.
Atualmente, a cozinha da pensão e a feijoada embalada pela roda de samba também estão impedidas de acontecer devido a alguns litígios que a comunidade enfrenta. Sobre a cozinha, vale a pena ressaltar que o espaço, além de sociabilidade, era uma forma de ampliar a renda do grupo por meio do fornecimento de quentinhas para prestadores de serviços e moradores da vizinhança.
Com o gingado de quem luta há muito tempo, Luiz Sacopã ironiza esse impedimento: “Eu, até há pouco tempo, fiz uma reportagem aí pra TV Brasil porque eu falei que eles estavam a fim de me classificar como traficante de quentinhas, porque até quentinhas eles estavam proibindo. Quer dizer, meu primeiro flagrante Alá! Tá traficando quentinha. Então, não pode, até isso é uma coisa que é proibido. Então, é uma luta muito árdua, mas a gente resiste. O chato dessa história toda é que você vai, por dentro, armazenando um lado emocional muito forte que vai prejudicando a sua saúde, mas fazer o quê? É Brasil, é a luta.”
Apesar do funcionamento interrompido da pensão, a feijoada continua viva na memória daqueles que a experimentaram. Sobre isso, Luís Sacopã explica o segredo: “E nosso prato é feijoada, porque nossa feijoada, ela é muito conhecida. E ela é diferenciada, porque essa feijoada normalmente... ela é feita na lenha [...]. Então, o nosso segredo da feijoada tá justamente na lenha, porque a feijoada na lenha tem um sabor diferente, entendeu?! Então, ela é muito procurada. Olha, nós estamos sem atividades há um ano aproximadamente, e eu ainda atendo telefone de pessoas querendo reservar local pra feijoada.”
Além disso, Dona Tina acrescenta: “Mas a feijoada, em geral, é servida com um docinho de banana [...]. Esses temperinhos que você compra pronto não tem gosto de nada, e o alhinho que você faz na hora é outra coisa. Daqui a pouco, eu vou temperar o feijão, cê vai sentir o cheiro.”
