Segunda-feira, 14 de Novembro de 2016 às 16:59 Postado por A COZINHA DOS QUILOMBOS História dos Quilombos

Quilombo da Machadinha Quissamã, Região Norte Fluminense

Quilombo da Machadinha Quissamã, Região Norte Fluminense

No Quilombo da Machadinha, situado no Município de Quissamã, as narrativas sobre os antepassados têm texturas, sabores e odores que vêm da cozinha. Com astúcia e alegria, a culinária foi utilizada pelos escravos como tática para driblar, em termos cotidianos, as regras que permeavam as relações na sociedade escravista.

Os 250 moradores da comunidade são descendentes dos antigos escravos da Fazenda Machadinha, a qual, no século XIX, pertenceu ao Visconde de Ururaí e sua esposa, Ana Loreto, filha do Duque de Caxias. Atualmente, nesse espaço, o arruado de antigas senzalas serve como habitação para algumas famílias. Para além das imagens de violência e opressão que o local evoca, as histórias que explicitam a inteligência dos escravos colaboram para construir outras dinâmicas no tempo presente.

A esse respeito Bruno dos Santos, Diretor do Memorial da Machadinha, comenta: “A casa grande ruiu. Ficou um tempo sem moradores até que veio a ruir. Mas as senzalas sempre tiveram moradores. Nunca houve um período assim que, por menor que seja, que ficaram vazias ou desocupadas. [...] Então, a ideia da restauração foi dar uma qualidade de vida melhor para a comunidade, buscar as raízes, a influência. Antes desse processo todo de restauração, foi feita uma vigem lá pra Angola, para a localidade Quiçama, de onde descende a comunidade de onde vieram os primeiros negros para cá. Foi visitado lá o Museu Nacional de Angola, o Museu da Escravatura; foi descoberto que grande parte dos negros dessa região aqui vieram especificamente de Angola, daqui da região de Machadinha, especialmente da localidade de Quiçama. [...] E hoje o trabalho nosso aqui é manter a história viva, mostrar a importância da comunidade [...] a cultura afro que ainda remanesce aqui no local, que é a culinária, a religião, os próprios moradores com suas histórias locais, já viraram até lendas.”

Com pilhéria e riso, as letras do jongo tornam visíveis as formas sutis de resistências, conforme ilustra Bruno com alguns versos: “Ô, mamãe eu tenho pena / Ô, mamãe eu tenho dó / De ver o galo preto apanhar do carijó.” Outros manifestam insatisfações das formas de trabalho: “Cundê, Cundê, Cundê, Cundê, / eu não tô para fazer roça / para boi dos outro comer.”