Conceição do Imbé Campos Goytacazes, Região Norte Fluminense
A culinária é uma arte que precisa ser realizada com júbilo! Essa dica infalível de mãe e filha, Vanilda, com 57 anos, e Verônica, com 37 anos, expressa quando constroem novos sentidos para alimentos que, no passado, eram consumidos pelas pessoas da comunidade do Imbé.
Assim, de uma época em que nem sempre a realidade era festiva, trazem à tona recordações de algumas receitas, como, por exemplo, pelanca de velho; bolinho de farinha, água e sal; cantão de banana. Sobre a primeiro prata, Verônica destaca: “Meu filho gosta tanto de pelanca de velho que ele escondeu debaixo do colchão.”
Entretanto, no tange ao quesito ressignificação, a banana é a grande estrela. Tomando as rédeas da narrativa em suas mãos, Verônica conta: “A história que eu lembro, que o pessoal conta [...] que quando a usina faliu e o pessoal ficou desempregado, a banana era o prato principal. Banana cozida de manhã, porque aí fazia a paçoca. Pegava a banana, cozinhava, botava farinha e açúcar, era o café da manhã [...] na hora do almoço, era o cantão, e, na janta, o cantão de novo, porque não tinha outra coisa.”
Por vezes, conforme Verônica fala risonhamente, conseguir a banana demandava algumas peripécias: “No alto dessa serra ali, tem um lugar que tinha muita banana, só que o acesso lá é terrível, a estrada é esburacada mesmo. Pra você ir lá, só a cavalo. A minha tia foi, botou um jacá, que é um cesto grande, e botou um de um lado e outro do outro e foi buscar banana, porque as crianças estavam todas com fome, passando necessidade. Ela e uma outra tia minha. Só que as duas não eram magrinhas, eram fortezinhas. Foram no cavalo. O cavalo não estava aguentando as duas mais, abria as pernas, tentava deitar, cansado, suado. E as duas em cima do cavalo porque a altura é muito grande. Quando chegaram lá, encheram o cesto de banana e desceram as duas no cavalo. Daí, o cavalo não aguentou não, abriu as pernas e teve que deitar, porque não aguentou o peso. Pior que o cavalo não era delas, era do campeiro, e era um cavalo de raça. E as duas trepadas no cavalo, quase matando o cavalo. Elas desceram, ficaram batendo no cavalo pra ele levantar. Foi quando veio um rapaz e falou: Ó, vou dar uma catucada, porque se não levantar agora, não levanta mais! Aí, cutucou o cavalo, que saiu de carreira e as duas saíram correndo atrás. Quase mataram o cavalo por causa de pegar banana pra fazer a comida. [risos] Gente, que coisa triste isso aí, hein?... Aí, essa foi a história das minhas tias.”
Além disso, essa receita passa de geração em geração, conforme explica Dona Vanilda: “Vem de geração em geração. Só que na época o pessoal comia por necessidade, hoje não. É um prato que todo mundo gosta. É totalmente diferente; hoje ninguém usa mais por necessidade, é porque gosta. Vê uma banana verde e faz o ensopado. Hoje, é totalmente diferente.”